A presença da depressão na criação de ratos (e animais em geral)
- Clube do Ratto
- 20 de ago. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 28 de mai.

A depressão é uma doença que atinge boa parte da população brasileira (cerca de 6%) e esse número continua crescendo, sendo o Brasil o país com maior índice de pessoas depressivas da América Latina.
Caracterizada por tristeza extrema, sentimento de vazio, falta de interesse na vida e outros sintomas, é comum que pessoas com a doença tenham dificuldade em realizar tarefas domésticas simples e até mesmo não consigam levantar da cama.
Entretanto, até que ponto a depressão afeta apenas quem a vivencia e em que momento ela passa a prejudicar nossos animais?
É comum que médicos indiquem a adoção de animais como parte do tratamento para depressão, visto que a preocupação com eles traz um senso de responsabilidade e ocupação, distraindo a pessoa depressiva e a tirando do estado mórbido em que se encontra.
O problema inicia quando essa responsabilidade deixa de ser suficiente como estímulo. Também pode ocorrer da depressão vir quando a pessoa já possui um animal e, nesses casos, as chances de que ele auxilie no tratamento são ainda menores.
Devemos sempre lembrar que nossos pets confiam em nós para absolutamente tudo. Não se trata apenas de oferecer alimento e manter um alojamento limpo. Eles precisam da nossa presença, do nosso cuidado e da nossa dedicação diária.
Quando falamos de ratos, esse compromisso ganha ainda mais significado. É essencial oferecer atenção constante, permitir momentos de soltura fora da gaiola e criar um ambiente rico em estímulos, para que se mantenham ativos, curiosos e felizes. Esses pequenos precisam explorar, interagir e se sentir seguros ao nosso lado.
À medida que envelhecem, o cuidado se intensifica. Embora passem mais tempo dormindo, o corpo se fragiliza, tornando-se mais suscetível a doenças. Muitos ratos idosos podem precisar de ajuda para comer, se limpar ou até mesmo se locomover. Pequenos gestos, como segurar a comida para eles ou limpar suavemente o rostinho, se tornam grandes demonstrações de amor.
Mas e quando a dor começa a afetar também os que dependem de nós?
No momento em que a depressão começa a interferir e impactar a vida dos nossos animais, é importante agir com clareza e responsabilidade. Quando estamos fragilizados, é comum que pensamentos pessimistas surjam, acompanhados de culpa e insegurança. Às vezes, vem a ideia de doação: “Talvez alguém possa oferecer uma vida melhor aos meus bichinhos...”
Mas a realidade não é tão simples. Animais, especialmente aqueles que já estão envelhecendo ou que exigem cuidados constantes, como os descritos anteriormente, sentem profundamente mudanças bruscas. Eles criam vínculos, confiam em nós, e dependem dessa estabilidade para se sentirem seguros.
Agir com razão nesses momentos é um ato de amor — buscar ajuda para si mesmo é, também, uma forma de continuar cuidando de quem depende de você. Doações não são simples
Antes de tudo, considere
Em primeiro lugar, se você é uma pessoa com tendência à depressão, é importante refletir com calma antes de adotar um animal. Assim como não devemos assumir a responsabilidade por um pet sabendo que não poderemos arcar com seus custos, também não é justo acolher um animal já prevendo a possibilidade de doá-lo futuramente por falta de condições emocionais. Isso não é apenas uma questão de responsabilidade, mas também de empatia.
O segundo ponto é considerar se você conta com uma rede de apoio — pessoas de confiança que possam ajudar nos cuidados com os animais, caso você passe por um período difícil. Ter esse suporte faz toda a diferença para garantir o bem-estar deles, mesmo quando você não estiver em seu melhor momento.
Por fim, se você já tem seus animais e está passando por um momento difícil, sem apoio externo, saiba que entendemos o quanto tudo pode parecer pesado. Quando a depressão toma conta, até mesmo as tarefas mais simples se tornam um fardo — e cuidar de outro ser vivo pode parecer impossível.
Nesses momentos, é importante ser honesto consigo mesmo. Se você sentir que realmente não conseguirá seguir com os cuidados, procure reunir forças para buscar adotantes verdadeiramente capacitados. Isso também é um ato de amor. Mas tenha em mente que encontrar bons tutores nem sempre é fácil, e mesmo quando isso acontece, seus animais podem não se adaptar bem à nova casa, especialmente se já forem idosos ou muito apegados a você.
Antes de tomar qualquer decisão, respire. Lembre-se de que pedir ajuda é um sinal de coragem, não de fraqueza. E, se for possível, tente dar um passo de cada vez: um pote de comida, uma gaiola limpa, um olhar atento. Às vezes, esses pequenos gestos — mesmo que feitos com esforço — são o que mantém vivo o vínculo entre você e eles.
Também já passamos por isso. E entendemos a sua dor
Como pessoas que já enfrentaram — e em alguns casos ainda enfrentam — a depressão, que passaram por perdas de familiares e outros desafios profundos, nós, do Clube do Ratto, queremos começar dizendo: depressão não é frescura.
Sabemos que não é simples. Não se trata de "parar de se sentir assim", e definitivamente não é uma escolha ou uma brincadeira. A dor é real, e o cansaço emocional pode ser imenso. Ainda assim, é importante lembrar que temos vidas sob nossa responsabilidade.
Essas pequenas criaturinhas, tão frágeis e inocentes, dependem inteiramente de nós. E é justamente esse vínculo de amor e confiança que pode, muitas vezes, ser nossa maior fonte de força nos momentos mais escuros.
Se você está passando por um período difícil, queremos que saiba: você não está sozinho. Desejamos que encontre apoio, acolhimento e, principalmente, motivos para continuar. Seus animais sentem sua presença, confiam em você e, se um dia você partir, eles vão sentir sua falta.
Ligue 188 - Centro de Valorização da Vida
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