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Ratos - Os perigos do sol e da luz artificial excessiva

Atualizado: 28 de mai.

Os ratos, assim como várias outras espécies de roedores, são animais noturnos — ou seja, apresentam comportamento notívago, com maior atividade durante a noite. Isso significa que eles preferem ambientes com pouca luz e tendem a descansar durante o dia. Os ratos mantidos como pets seguem esse mesmo padrão, sendo mais ativos ao entardecer e durante a noite. Mas uma dúvida frequente entre tutores é: será que esses animais conseguem viver toda a vida sem a luz do sol? Qual seria o nível de iluminação ideal para garantir seu bem-estar? Compreender os efeitos da luz no organismo dos ratos é fundamental para proporcionar um ambiente que respeite seu ritmo biológico e preserve sua saúde física e comportamental.


Ratos precisam de luz solar?

Ratos domésticos não necessitam de exposição à luz solar direta para manter a saúde. Pelo contrário, a incidência direta de raios solares pode ser extremamente nociva, favorecendo o desenvolvimento de hipertermia (aumento excessivo da temperatura corporal), lesões oculares – como danos irreversíveis à retina – e até mesmo neoplasias cutâneas. A exposição prolongada pode levar a quadros clínicos graves e, em casos extremos, ao óbito. É fundamental manter os ratos em ambientes bem ventilados, iluminados indiretamente e protegidos do calor excessivo.


Ratos são sensíveis ao superaquecimento

Ratos possuem mecanismos fisiológicos de termorregulação bastante limitados. Diferente dos seres humanos, que transpiram, ou dos cães, que dissipam calor pela respiração ofegante, os ratos não suam nem ofegam. Seu principal mecanismo para controle térmico é a vasodilatação da cauda — uma estrutura com poucos pelos e rica em vasos sanguíneos, que permite a liberação de calor quando o fluxo sanguíneo é aumentado na região.


Contudo, essa forma de resfriamento é pouco eficiente e não consegue compensar variações térmicas extremas. Assim, os ratos são altamente vulneráveis tanto ao superaquecimento quanto à hipotermia. Temperaturas elevadas podem levar rapidamente à hipertermia, enquanto o frio intenso pode causar estresse fisiológico e imunossupressão.


Além disso, é fundamental protegê-los da luz solar direta. A exposição aos raios solares pode causar superaquecimento, danos à pele e aos olhos — especialmente em ratos albinos, que têm sensibilidade ocular acentuada. Sempre mantenha a gaiola em local sombreado, com iluminação indireta e boa ventilação.


A faixa de temperatura ideal para o bem-estar térmico de ratos de estimação está entre 15 °C e 25 °C, sendo 23 °C considerada a mais confortável. Garantir um ambiente climatizado, seguro e protegido da luz intensa é essencial para preservar a saúde e o comportamento natural dos ratos.



Os olhos dos ratos são extremamente sensíveis à luz brilhante

Ratos têm uma visão pouco desenvolvida, mas isso é compensado por um olfato muito aguçado e uma audição bastante sensível. Eles enxergam com pouca nitidez e têm dificuldade para perceber detalhes e cores. Mesmo assim, seus olhos são muito sensíveis à luz, especialmente à luz forte ou direta.


A parte do olho chamada retina — que capta a luz e forma as imagens — pode ser facilmente danificada quando exposta a luzes muito intensas. A luz ultravioleta (UV), presente na luz solar direta, é especialmente perigosa. Ela pode causar irritações, perda de visão e, com o tempo, levar a danos permanentes.


Essa sensibilidade é ainda maior em ratos albinos, que têm olhos vermelhos ou rosados (pink). Por não terem pigmento nos olhos, eles não conseguem filtrar bem a luz, o que aumenta ainda mais o risco de lesões.


Por isso, é essencial manter os ratos longe da luz solar direta. O ideal é que fiquem em ambientes com luz suave e indireta, com tocas ou esconderijos escuros onde possam descansar com conforto e segurança.



Aumento do risco de câncer

A exposição prolongada à luz solar, especialmente aos raios ultravioleta (UVA e UVB), pode causar sérios danos à pele dos ratos de estimação. Esses danos incluem alterações celulares que aumentam significativamente o risco de desenvolvimento de câncer de pele, como o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular. Embora os ratos tenham uma expectativa de vida curta — geralmente entre 2 e 3 anos —, a exposição solar direta durante esse período é suficiente para provocar prejuízos importantes à saúde.


Ratos albinos, por não possuírem melanina, são particularmente vulneráveis à radiação UV. Essa falta de pigmentação os torna mais propensos a desenvolver lesões cutâneas, problemas oculares e neoplasias precoces. Além disso, a exposição constante à luz intensa pode aumentar o risco de tumores mamários, que já são comuns nessa espécie. Por isso, é essencial proteger os ratos da luz solar direta e oferecer um ambiente seguro, com iluminação suave e tocas escuras.



E então surge uma dúvida muito comum:

"Se ratos não podem tomar sol, eles não possuem deficiência de Vitamina D?"

Ao contrário dos seres humanos, ratos não tomam sol como forma de sintetizar vitamina D. Esses animais sintetizam essa vitamina a partir dos alimentos que ingerem, e não da exposição à luz solar. Por isso, é essencial oferecer uma dieta nutricionalmente completa e balanceada, com níveis adequados de vitamina D, além de outros nutrientes importantes como cálcio, fósforo, potássio e proteínas.


As rações do tipo Premium, desenvolvidas especificamente para ratos, já contêm vitamina D na quantidade certa, dispensando a necessidade de suplementação adicional em animais saudáveis. Garantir uma alimentação de qualidade é um dos pilares mais importantes para a prevenção de deficiências nutricionais e para a longevidade dos ratos de estimação.



Quanta luz interna é necessária para os ratos?

Estudos mostram que até mesmo a luz artificial comum, como a de lâmpadas, deve ser usada com moderação no ambiente dos ratos de estimação. Esses animais se adaptam melhor a uma rotina com cerca de 8 horas de luz fraca por dia, podendo tolerar, no máximo, até 12 horas de iluminação leve. A exposição prolongada à luz intensa pode reduzir significativamente sua expectativa de vida (Azar et al., 2008).


A luz influencia diretamente o chamado ciclo circadiano, que é o relógio biológico responsável por regular os períodos de atividade e descanso ao longo do dia. Em ratos, que são animais noturnos, esse ciclo é especialmente sensível à iluminação excessiva. Manter uma rotina de luz adequada ajuda a preservar comportamentos naturais, como os horários de alimentação e sono, e contribui para a estabilidade hormonal e imunológica.



Estudo: exposição contínua à luz artificial

Um estudo conduzido por Vanogradova et al. (2019) analisou os efeitos da exposição prolongada à luz em dois grupos de ratos durante um período de pouco mais de um ano:


  • Grupo 1: exposto a 24 horas de luz contínua por dia.

  • Grupo 2: exposto a 12 horas de luz e 12 horas de escuridão por dia.


Os resultados observados no grupo 1 foram alarmantes:

  • Diabetes: 1 em cada 5 ratos apresentou níveis anormais de glicose no sangue aos 16 meses de experimento.

  • Cio irregular: 80% das fêmeas apresentaram ciclos reprodutivos desregulados ao final de 17 meses.

  • Tumores mamários: houve aumento significativo na incidência de tumores em ratas fêmeas.

  • Redução da expectativa de vida: os ratos do grupo exposto à luz contínua viveram menos do que os do grupo com ciclo claro-escuro equilibrado.



Como saber se a luz está forte demais para meus ratos?

Segundo Castelhano-Carlos e Baumans (2009), a exposição a luzes artificiais muito intensas pode provocar comportamentos típicos de estresse, como:


  • Aumento na defecação;

  • Redução da interação social.



Conclusão


Seus ratos serão mais saudáveis se forem mantidos longe da luz solar direta e expostos, no máximo, a 12 horas de luz artificial por dia.


Lembre-se de oferecer tocas ou esconderijos na gaiola, para que eles possam se abrigar da luz sempre que desejarem — isso contribui para o bem-estar e a sensação de segurança dos animais.

Com uma alimentação balanceada e um manejo adequado, não há motivo para preocupação com deficiências vitamínicas. A saúde deles depende muito mais da qualidade do ambiente e da dieta do que da exposição à luz.




Referências

Azar, TA, Sharp, JL, & Lawson, DM 2008. Efeito de abrigar ratos sob luz fraca ou noites longas na frequência cardíaca. Journal of the American Association for Laboratory Animal Science: JAALAS , 47 (4), 25–34. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2694710/

Beard, H., Boggess, T. e Von Haam, E., 1936. Produção experimental de tumores malignos no rato albino por meio de raios ultravioleta. The American Journal of Cancer , 27(2), pp.257-266. https://cancerres.aacrjournals.org/content/27/2/257

Castelhano-Carlos, M. e Baumans, V., 2009. O impacto da luz, ruído, limpeza da gaiola e transporte interno no bem-estar e stress de ratos de laboratório. Laboratory Animals , 43(4), pp.311-327. https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1258/la.2009.0080098

Hess, A., Unger, L. e Pappenheimer, A., 1921. III. Raquitismo experimental A prevenção do raquitismo em ratos pela exposição à luz solar.1. Biologia Experimental e Medicina , 19(1), pp.8-12. https://www.jbc.org/article/S0021-9258(18)85952-X/pdf

Vinogradova, I., Anisimov, V., Bukalev, A., Semenchenko, A. e Zabezhinski, M., 2009. A interrupção circadiana induzida pela luz noturna acelera o envelhecimento e promove a tumorigênese em ratos. Envelhecimento , 1(10), pp.855-865. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2816394




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